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Houve um tempo em que o mundo era grande. Um imenso aglomerado com alguns milhões de desconhecidos entre si. Guiados pela sorte, providência ou coincidências, vez por outra eles se encontravam. O que faziam, porque o faziam e para que faziam nesses encontros e desencontros era de única e exclusiva competência dos envolvidos, em maior ou menor grau. E destes esbarrões, tropeços e tombos foi feita a história. Conforme conhecemos ou, melhor, conforme nos contaram. Eis que a medida de nossa evolução foi a velocidade de um encolhimento atroz deste mesmo mundo. Ferramentas de comunicação extinguiram a ausência enquanto realidade possível. E com ele sumiram do mapa o desencontro e, sobretudo o desaparecimento. Nas pistas que deixamos para trás todos os dias, em nossos perfis em redes sociais, nos cadastros de operadoras de celular, interligados com sua loja de departamentos preferida que por sua vez se comunica com seu banco; enfim, num mundo informacional ao extremo e para o regozijo de Mcluham, viramos uma rua de subúrbio. E cheia de vizinhos fofoqueiros. Em meu perfil do Orkut, fotos só uma, comunidades as profissionais e uma ou outra de cunho estritamente pessoal. Meus filhos não estão na Web e quando falo de projetos e de parceiros profissionais, raramente cito nomes. Nunca valores. O público e o quase-público. Se antes vivíamos num pêndulo do público-privado, aquele tema que o Roberto DaMatta tanto adora, hoje temos várias instâncias públicas e pouca chance de uma vida privada. Outro dia trocava impressões sobre isso com uma jornalista amiga e ela pontuou muito bem:
Tudo o que coloco em meus blogs é público. Mas é um público que eu permito ser conhecido.
Temos vários ambientes públicos. Sua persona na internet é o Rei mais nu que já inventaram. Subvertendo um pouco o conto, o único que não vê é o menino, ou menina, que você insiste em deixar morar dentro de você. Pense nisso.